quinta-feira, 6 de novembro de 2014

UMA NOVA ÉTICA PARA O PLANETA

Zildo Gallo


A palavra ética vem da palavra grega ethos, que significa morada. Todavia, não se tratava e, também hoje, não deve ser compreendida como a casa material, mas como a casa existencial. A casa existencial significava para os gregos a teia de relações entre o meio físico e os membros da comunidade. Para os dias de hoje, recuperando a concepção grega, a morada não deve ser apenas a casa onde as pessoas habitam, deve ser também a cidade, o país e o planeta Terra, a casa de todos.
A necessidade de se construir uma ética para a Terra é impor­tante e sua relevância para a própria sobrevivência da humanidade é inquestionável, pois a busca desenfreada por riqueza e poder e a luta sangrenta pela partilha das riquezas naturais têm impedido a convivência harmoniosa entre todos os homens e destes com os demais seres. Guerras e destruição ambiental são os resultados mais visíveis da desarmonia instalada. Há que se fundar um novo ethos para se criar uma relação nova entre os homens e destes com todos os demais seres. A nova ética deverá nascer da natu­reza mais profunda do ser humano. A essência do homem está mais no cuidado, na compaixão, do que na razão e na vontade. Há que se resgatar a essên­cia do humano.
O ser humano é um animal que, pela sua natureza, produz cultura. Ele cria normas e instituições a partir de estímulos do meio ambiente e das relações com os semelhantes e, as­sim, acaba modelando a sua própria natureza. Ele tam­bém é um animal que con­segue sobreviver em diversos ecossistemas, adaptando-se a eles e moldando-os de acordo com as suas necessidades. Toda sociedade, a partir da sua cultura, desen­volve uma idéia particu­lar do que é a natureza. Então, o conceito de natu­reza não é natural, ele é criado e ins­tituído pelos homens. É um dos pilares que sustentam as relações sociais e a produ­ção material e espiritual dos povos. Para a sociedade atual, destacando-se a oci­dental, a natu­reza, por definição, contrapõe-se à cultura. A cultura é considerada como algo supe­rior e que, por isso, pode controlar a natureza.
A partir da Revolução Científica e da Revolução Industrial, o homem colocou-se acima da natu­reza, acima dos demais seres que nela convivem. Trata-se de um pro­cesso de sepa­ração, de um processo que coloca a natureza à sua plena disposi­ção. Todos já ouviram a expressão “o homem é um animal social”, distinguindo-o dos outros animais. Ocorre que a vida social não é privilégio da humanidade. A sociabilidade acontece de forma ampla no mundo animal. Esta atitude arrogante produz um fosso entre a humanidade e a natureza. Ela tornou-se estranha ao homem, que se acredita dela separado. Na sua mente ela deixou de ser a sua morada, pois a sua casa passou a ser apenas a natureza por ele modifi­cada, a natureza “construída”.
Nos últimos séculos a justificativa dada para o avanço da ciência e da indústria tem sido a elevação do nível de consumo. O consumo é essencial para a vida humana; não é esta a questão. O problema não é o consumo em si, mas os seus padrões e efeitos sobre o meio ambiente é que são questioná­veis. O atendi­mento de várias possibilidades de consumo deve acontecer para melhorar as condições de vida das populações excluídas, não se questiona isto.
O consumo moderno, contudo, seguiu cami­nhos tortuosos e virou consumismo, penetrando no inconsciente coletivo da população, onde se confundiu com o desejo de liberdade. Ser livre é poder apropriar-se da natureza, transformá-la em bens de consumo e consumi-la. Quanto maior o consumo maior a liberdade. Em rela­ção à natureza consolida-se, com a aceitação deste conceito de liber­dade, uma ética utilitarista. A natureza está aí para ser usada e abusada.
A abundância de bens de consumo produzidos pela indús­tria é vista como um símbolo do sucesso das economias modernas. En­tretanto, de algumas décadas para cá, esta abundância começou a ser vista com olhares negativos, já que o consumismo passou a ser considerado um problema social.

O consumo exacerbado não é mais uma opção aberta, com amplas possibilidades para toda a Terra. A aceitação da idéia de um “desenvol­vimento sustentável” indica que se fixou um limite superior para o progresso. Esta aceitação coloca um novo e saudável desafio: como eliminar a miséria, sem desrespeitar a capacidade de suporte do planeta? Po­demos querer empurrar o crescimento além dos limites, mas devemos ter cons­ciência do fato de que, mais cedo ou mais tarde, teremos que confrontar a nêmesis da natureza. A deusa Nêmese, venerada por gregos e romanos, representava a justa medida na ordem divina e humana. Todos os que ousassem ultrapassar a própria medida (chamada de hybris – auto-afirmação arrogante) eram imediatamente fulminados por Nêmese. Há muito a humanidade vem exercendo a sua arrogância e a deusa já começou a manifestar a sua ira. Não devemos pagar para ver.

Um comentário:

  1. A palavra ética vem da palavra grega ethos, que significa morada. Todavia, não se tratava e, também hoje, não deve ser compreendida como a casa material, mas como a casa existencial. A casa existencial significava para os gregos a teia de relações entre o meio físico e os membros da comunidade. Para os dias de hoje, recuperando a concepção grega, a morada não deve ser apenas a casa onde as pessoas habitam, deve ser também a cidade, o país e o planeta Terra, a casa de todos. LEIA O ARTIGO CLICANDO NO LINK.

    ResponderExcluir

TEMPO E ROUPA SUJA